A Polícia Civil recuperou 13,5 toneladas de explosivos, no final da tarde desta terça-feira (17), na divisa entre Guarulhos e Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo. A carga, que supostamente havia sido roubada na última sexta-feira (13), foi recuperada em sua totalidade e dois envolvidos foram presos.
O motorista A.J.S., de 33 anos, contou aos policiais do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) que havia sido roubado na região de Cumbica, em Guarulhos. Na versão dele, homens o mantiveram refém por algumas horas e depois o liberaram na zona leste da Capital. A.J.S. seguiu então para o 63º Distrito Policial (Vila Jacuí), onde registrou o crime.
Os investigadores da 5ª Delegacia de Roubo a Banco, da Divisão de Investigações de Crimes contra o Patrimônio do departamento, desconfiaram do depoimento do motorista. Junto com o suspeito, eles refizeram o trajeto e cruzaram as informações com imagens de câmeras de segurança de diversas empresas ao longo da via.
"Ele entrou em contradição diversas vezes durante o depoimento, então percebemos que ele estava mentindo", disse o diretor do DEIC, Emygdio Machado Neto. Além de forjar um crime, o motorista ajudou a levar a carga até uma favela em Cumbica. Confrontado, ele confessou.
"Na realidade, o motorista A.J.S. estacionou o caminhão em um ponto de parada e começou a beber. Embriagado, ele passou a oferecer partes da carga para quem quisesse comprar", explicou o titular da 5ª Delegacia, Fábio Pinheiro Lopes. "Foi nesse momento que um homem disse que conhecia alguém que poderia adquirir os explosivos".
O homem era R.N.A., de 21 anos, que indicou R.F.O., 22. Esse terceiro suspeito, que possui passagens por furto, foi o intermediário entre o motorista e o traficante E.M.S.M., 27, que seria o comprador final. O traficante, conhecido como "Popó", já tinha passagens por roubo, porte de arma, receptação e associação criminosa, mas está em liberdade concedida pela Justiça.
"Ou seja, se ele estivesse cumprindo a pena completa, não estaria comprando essa carga e muito menos traficando", afirmou o secretário da Segurança Pública, Alexandre de Moraes, que recentemente apresentou ao Congresso propostas para endurecer a legislação contra criminosos. Moraes acompanhou toda a investigação e foi até a sede do Deic parabenizar os policiais pela ação.
Encontro da carga e prisão
Os policiais prenderam o motorista A.J.S. e R.N.A. com auxílio do Departamento de Inquéritos Policiais e Polícia Judiciária (DIPO) do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ/SP). Os juízes concederam o mandado de prisão no sábado (14), mesmo dia em que foram detidos.
Com base nos serviços de inteligência e investigação, os policiais encontraram a carga em outro caminhão, por volta das 19h de terça-feira (17), na Estrada de Bonsucesso, em Itaquaquecetuba. Durante a abordagem, um grupo de criminosos conseguiu fugir pela mata próxima, porém sem levar os explosivos.
Segundo a nota fiscal da empresa, o peso líquido da carga, incluindo o caminhão inicialmente roubado, era de 14,3 toneladas - sendo 13,5 t só de emulsões encartuchadas. Os explosivos agora ficarão sob custódia do Exército.
O caminhão que havia sido supostamente roubado foi encontrado vazio no sábado, na região do Tatuapé, zona leste da Capital. O caso foi registrado como apreensão e posse de explosivos, associação criminosa e apropriação indébita. Os outros dois envolvidos, já identificados, seguem sendo procurados. As investigações prosseguem.
"A operação mostra que é preciso atuarmos sempre em conjunto com as outras instituições, como o Judiciário e o Ministério Público", ressaltou Moraes. "Segurança pública é um dever de todos, não apenas de uma ou outra corporação".
Risco para o país
Segundo o delegado Fábio Pinheiro Lopes, o traficante foragido iria vender as emulsões para quadrilhas em todo o país. "Ele pretendia pulverizar a carga logo, para evitar ser pego".
Para o secretário, o caso só reforça a importância da medida adotada pelo Exército em fevereiro. A Diretriz NR 1/2015, expedida pelo Comando da 2ª Região Militar, determina que todo transporte de explosivos deve ser feito com escolta particular. "Não adianta, porém, que apenas uma região faça isso. É preciso modificar um decreto federal, para que todo o país tenha a mesma regra", afirmou Moraes.
O secretário - que já se encontrou com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e com o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha - aguarda agora uma reunião com o Ministério da Defesa para tratar do assunto
Rodrigo Paneghine
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